Diz à lenda que há setecentos anos, vivia uma
família de pescadores na beira da praia, no Estado do Maranhão. Era uma família com cinco filhos, quatro homens e uma mulher. Todos trabalhavam juntos. A menina
que se chamava Ludmila acordava bem cedo pra ajudar no café, enquanto os
meninos desembaraçavam as redes pra ir trabalhar.
Quando era lá pra noitinha, eles
chegavam, e aí, todos se juntavam no terreiro da casa pra contar e separar os
peixes que seriam vendidos no dia seguinte.
Ludmila era uma mulher dos seus vinte e quatro
anos, morena pelo sol, cabelos negros prateados, uma beleza que era enfeitada
por uma flor de gardênia. Ela sempre chamava atenção dos meninos, todas as
vezes que ia à cidade com seu pai.
Um dia no final do entardecer, Ludmila tinha
o hábito de se afastar de casa, pra um lugar nas pedras que só ela conhecia, e
ficava a pensar nas coisas de menina, cantarolava ao mesmo tempo em que
penteava seus cabelos prateados. A noite caia, e Ludmila continuava lá, olhando
a lua e admirando o mar.
Ela percebe que algo estava se
aproximando, trazido pelas águas, era um cadáver de um homem, ela se assusta,
mas vê que não está morto, ela desce das pedras, pega um galho seco na areia, e
tenta puxá-lo pra beirada.
Sem saber o que fazer, ela sacode o
rapaz pela roupa tentando reanimá-lo.
_Ei! Mas devagar, assim você me mata!
_Quem é você? falou Ludmila _Meu nome é Roderik, respondeu o rapaz. Então
Roderik explicou o que aconteceu, ele estava num navio, e subiu no mastro para
observar a distância da terra, neste momento ele apontou sem querer a luneta
para o sol, que ofuscou seus olhos e o fez desequilibrar, caindo no mar, depois
disso não se lembra mais de nada.
_Sorte minha ter sido salvo por você,
sorriu Roderik. Ludmila meio sem graça agradeceu no olhar.
Roderik
era um rapaz branco, cabelos ruivos pegando fogo, e sardas no rosto.
Nesse momento chega o pai de Ludmila a sua
procura, e a vê conversando com o rapaz desconhecido.
_Ludmila minha filha, estamos
procurando por você, quem é este homem?!
Roderik ainda fraco, tenta
explicar a situação, mais o pai de Ludmila a pega pelo braço, sem ouvir o que eles têm a dizer.
_Calma papai, ele é uma vítima! Estava
a deriva no mar. Então o pai escuta a história e resolve levá-lo pra casa, mas
só por uma noite, nada mais.
Quem disse que Roderik e Ludmila
dormiram, passaram a noite conversando e rindo muito. O pai de Ludmila vinha de
hora em hora e chamava atenção da menina._está na hora de você ir dormir, e você Roderik, vá procurar seu canto.
Até parece que eles escutavam, estavam
tão entretidos que a noite passou. _Já amanheceu e você nem descansou Roderik,
falou Ludmila. _Nós dois não dormimos rs, disse Roderik. Agora ele teria que ir
embora, o pai da menina não permitiria que um homem estranho ficasse em sua
casa. Roderik sem conhecer o local, levanta e sai, mas antes ele precisava
fazer algo. _Ludmila! Quero me despedir, fecha os olhos. Ludmila na sua
inocência fez o que ele pediu, e Roderik dá um beijinho de leve em seus lábios.
Ela fica tão vermelha, sem saber o que dizer. Ele segura suas mãos e diz que
voltará pra buscá-la, porque esta noite que passaram juntos, ele descobriu que
ela era a mulher da sua vida.
Um mês se passou, e Ludmila que até então só
se preocupava com afazeres da casa, agora todos seus pensamentos eram em
Roderik.
O Pai
que não era bobo, percebia o que estava acontecendo, mas não deu muita
importância, porque não sabia da promessa que o rapaz tinha feito a sua filha.
Três meses depois, Ludmila está nas pedras
onde sempre ia pensar, e vê uma garrafa com um bilhete boiando no mar. Era uma
carta de Roderik, ele diz que está chegando de navio e que ela ficasse pronta
pra fugirem juntos. Ludmila guarda a carta em sua roupa e corre
desesperadamente pra casa.
Ela não tinha muito que levar, só uma trouxa
de roupas velhas, quem nem lá iria usar.
Numa noite, o pai da menina chega mais cedo
da pesca e não encontra Ludmila, vai até o quarto, e percebe uma trouxa
arrumada no canto da cama. Ele revira tudo, e encontra a carta embaixo do
colchão de palha. Ele fica furioso, ela era única mulher da casa, não ia
permitir tal despropósito. Então o homem bebe muito e sussurra sozinho _Minha
filha ninguém vai levar! Se fizer isso comigo, vou amaldiçoar! Porque se não
ficar aqui, lá também não vai ficar.
Ele sai atrás da filha, gritando por
todo lado, desorientado pela bebida.
Ludmila escuta os berros do pai, ele
já sabe de tudo, com medo ela corre pra dentro da mata, e fica lá até o dia
amanhecer. O pai que era um homem astuto sentou na areia até ela aparecer.
O navio se aproxima no horizonte do mar,
Ludmila na mata, vê seu amado chegar, e como fazer se seu pai está a esperar?
Roderik na proa pede que baixem o
barco, ele se aproxima para ancorar. O pai de Ludmila grita _Volta agora,
porque minha filha você não vai levar!
Ludmila corre em direção a Roderik, e o abraça,
com pés descalços e sem trouxa de roupas _Vamos agora! Não há tempo esperar.
Os dois entram na barca e sem olhar pra trás,
se afastam no mar.
O pai de Ludmila, com ódio pela traição,
amaldiçoa o casal, e levantando a mão _Vocês não ficarão juntos, nem aqui e nem
em outro lugar, vão ser como o sol e o mar, nunca vão se encontrar.
O barco se afasta, eles sobem no
navio e partem.
A noite
cai, e uma tempestade chega sem esperar, o navio balança com tamanha força, que
sua proa se quebra, lançando todos ao mar.
Roderik
tenta alcançar Ludmila, ela tenta alcançá-lo também, quanto mais nadam, mas
longe ficam um do outro.
Eles
não se vêem mais, no meio da escuridão, só ouve baixinho o eco da voz. Já sem
forças, Ludmila se entrega, e uma mão a carrega pro fundo mar.
Roderik
se perde, e no desespero pela vida, ele faz uma barganha _Me tira daqui!, Não
me deixa sofrer, minha Ludmila quero novamente poder ver. Então seu pedido é
aceito, um vento muito forte o carrega pro céu, além do espaço.
Amanhece, e pouco se vê dos destroços do navio. Ninguém se salvou.
Nessa
época muitos navegantes puderam ouvir a voz dos amantes, o mar chamava por ele
e o sol chamava por ela. E assim foi por muitas décadas...
Robert Lima
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