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terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Búzios: Os desaparecidos

      Em dezembro de 2014, resolvi tirar minhas férias em Búzios, reservei uma pousada pra 15 dias, deixei minhas malas arrumadas, coloquei poucas peças de roupa, só o suficiente pra sobreviver na cidade praiana, e minha agenda de bolso pra anotar algo que precisasse...
     Cheguei ao Hotel Marine no dia 03 de dezembro.
   _Sr. Adriam, aqui estão suas chaves, seu quarto é o 33, segundo andar. Falou o recepcionista.
    Estranho, quando eu estava chegando, esbarrei com um cara meio desastrado, logo no saguão, ele se desculpou e se apresentou como Rodrigo. Vestia camisa colorida de botão e short surfista estampado, que combinação!
      Até que o quarto que fiquei era melhor pessoalmente, porque nas fotos do site não parecia tão bom assim, uau! que visão, da sacada podia ver toda praia.
       Lá pras 19h resolvi dar uma volta, conhecer um pouco a cidade, e não é que novamente topei com o tal cara, o Rodrigo. Levantei a mão acenando, mas acho que ele não viu, doidão o cara, passou batido.  Já são 22h, eu resolvi me deitar, nisso que estava me arrumando, ouso um burburinho lá embaixo, desci pra ver o que estava acontecendo. O recepcionista disse que um jovem conhecido como Jonatas, havia desaparecido, ele era filho de uma funcionária da copa, estavam todos desorientados e preocupados com ela. Bom, eu lamentei o fato, mas não conhecia a pessoa, resolvi voltar para meu quarto.
       No café da manhã, peguei um copo de suco, coloquei torradas com requeijão e um iogurte com granola, era o suficiente. Fui fazer uma aula de treino na academia próxima, estava distante da minha, resolvi pagar umas diárias pra não perder o ritmo. Cheguei à academia, e quem encontro lá? Ele, o Rodrigo, todo desajeitado, parecia um peixe fora d’água. Apesar disso, ele já estava num maior papo com uma menina, pelo menos se enturmou. Depois da malhação, fui pro hotel, tomei uma chuveirada e fui pra praia.
      Levei um guarda sol, e fiquei lá olhando aquilo que é bom rs, muita novidade. Você pode até não dar um mergulho, mas a visão já vale à pena. Quando volto pro hotel, vou direto pro restaurante, é tanta comida diferente, que não sei nem o que comer. Sentei numa mesa afastada, pois não queria ser incomodado, e percebi um falatório na mesa ao lado, ouvi que uma menina havia desaparecido logo após ter saído da academia Corpus. Pensei, é a academia que malhei. Noutro dia resolvi indagar o professor da Corpus o que tinha acontecido.
    _Fala Adriam, tudo bem? _Tudo bem, fala ae! me diz uma coisa, que menina é essa que desapareceu aqui na academia? _Cara, é a Juliana, ontem ela saiu com rapaz meio desajeitado, os dois compraram um açaí e depois disso, ela não foi mais vista, a cidade toda está em alerta _que brabo hem professor! _ vim só passar umas férias, vou voltar cheio de histórias pra contar _ rsrs verdade Adriam, agora vai malhar que sua hora ta passando.
       Durante a semana tentei conhecer o máximo da cidade, diziam que na praia tinha um passeio coletivo de escuna, resolvi da uma espiada pra ver se era bom.
   _ Ae! quanto ta o passeio? _ trinta conto! _ faz um desconto ai, sou novo aqui, não vai querer perder o freguês rs _ ta bom, deixo por vinte cinco _ agora já melhorou rs.
      Coloquei o colete salva vidas, sou meio desconfiado, fiz uma varredura com os olhos em toda embarcação, hoje em dia acontece muito acidente, não dá pra vacilar.
      Foi um dos melhores passeios que eu fiz, visitamos algumas ilhas, troquei idéia com o povo local, umas histórias bem legais, adoro ouvir histórias.
       Voltei pro hotel com uma fome! Fui de bicho na comida, coloquei no prato uma mistura das galáxias, arroz carreteiro, panqueca recheada com camarão com cream cheese e empadão rs.
       Então me sentei à mesa que sempre fico comendo e observando tudo a minha volta. Nisso, ouso barulho, é comida e bandeja pra todo lado. Levantei assustado, é o carinha, o tal do Rodrigo, eita! cara ruim de roda. Fique com pena, abaixei e tentei ajuda-lo a pegar as coisas. Eu perguntei a ele se queria sentar comigo, ele respondeu algo que não pude entender, nãos sei se era gago ou fanho, mas vi que tinha problemas na fala. Ele saiu meio desorientado, e desapareceu.
       Nossa! Que dia, não agüentava nem andar direito, o estômago tava como? Daquele jeito.
       Deitei na cama, fiquei olhando aquela visão maravilhosa, um ventinho bom salgado...adormeci.
        Despertei do sono praiano...
      _Que isso rapaz! Que foi? Quem deixou você entrar aqui?!
        Acordei com o Rodrigo olhando pra mim, eu gritei com ele, saiu porta afora e não consegui alcançá-lo. Desci no saguão do hotel, falei com gerente o ocorrido. Ele disse não tinha nenhum hospede com as características do Rodrigo hospedado ali. Falou-me que ninguém poderia entrar no meu quarto, porque só eu tinhas o cartão magnético que abria a porta, o sistema de segurança não era falho. Pedi que mostrasse a filmagem na câmera do horário ocorrido, mas ele disse que depois de um tempo, ela não guardava mais as imagens.
        Então por conta própria resolvi investigar o que estava acontecendo. Noutro dia na academia, não encontrei o Rodrigo. Perguntei ao professor, ele disse que o rapaz trancou as aulas. De onde será que ele apareceu? Achei que era hospede do mesmo hotel que eu, desde o primeiro dia.
        Faltavam três dias pra eu ir embora, a vontade de ficar era grande, mas... Tudo que é bom, dura pouco.
        Fui até o centro da cidade comprar umas lembranças pra família e os amigos, enfim, não dá pra viajar e voltar de mãos abanando, sempre acaba rolando uns presentinhos pra turma.
        Tô vendo a polícia parada em frente ao mercadão, muita gente, pensei ter sido um acidente, o povo adora esses eventos. Eu como todo mortal, fui me enfiando no meio pra ouvir o acontecido. Era mais um desaparecido, faltando dois dias pra eu ir, e mais uma novidade, isso aqui ta virando bagunça.
        O rapaz de aproximadamente vinte e cinco anos de nome Marcos, havia desaparecido depois de sair da boate Estilo’ss.

Voltei para o hotel abarrotado de coisas, querendo economizar levando lembrancinhas, não achei nada disso, acabei levando cangas, sandálias... E tudo com logotipo de Búzios, o cartão de crédito no final do mês óh!
       Já eram 18:30 minutos, resolvi ir no salão de jogos, já estava muito queimado, nada de praia hoje. Comprei umas fichas e fui jogar, adoro jogo de corrida de carros. Fiquei até cansar, e subi pra dormir.
        Enquanto estava colocando o short, e fazendo minha exposição da figura na sacada rs, olho no pátio, e quem eu vejo, o retardado do Rodrigo.
        Desci correndo as escadas, fui pra fora, dei a volta pelo pátio, ele me viu e correu.
      _Para ai cara! Quero falar com você!
       Ele correu, entrou pela janela que dava acesso ao hotel, num cômodo lá nos fundos, eu não consegui alcançá-lo. Alguma coisa estranha tinha, resolvi ir à delegacia, apesar dele não ter me feito nada, mas o comportamento tinha sido abusivo, e registrei o ocorrido.
       Horas mais tarde a polícia estava no hotel, com uma intimação de busca,entrou em todos os quartos para averiguar, principalmente nos cômodos anexo a ele. O que Rodrigo não contava, é que a polícia estava cercando o hotel em trajes a paisano. Nessa hora Rodrigo pula o muro, é pego pelos policiais. O rapaz ficou muito nervoso e não conseguia soletrar uma palavra pela sua gagueira.
       O delegado acompanhado da escolta entrou na casa que havia nos fundos, e pra surpresa de todos, encontrou acorrentados os três desaparecidos, Juliana, Jonatas e Marcos. Estavam como animais, no meio de sujeira e pratos de comida, apenas uns lençóis sujos pra deitar. Descobriram que o pai de Rodrigo era o gerente do hotel, e sua mãe trabalhava na cozinha.
       Quem podia imaginar toda essa trama, o próprio gerente do hotel. Aí que tudo se revelou, Rodrigo desde pequeno tinha o problema na fala, a gagueira. Ele sofreu buling durante um bom tempo, o garoto ficou com problemas psicológicos, e isso afetou também aos seus pais. Ele cresceu sem amigos e trancado em casa, vendo o mundo pela TV. Então seus pais afetados também pela doença estimularam o garoto a trazer outros jovens pra sua casa, na intenção de fazer novos amigos, e com isso os mantiveram presos, pra que o garoto não se sentisse sozinho. Era uma família de criminosos? Ou doentes? Não sei. Eles foram presos, e o Rodrigo foi levado para uma clínica de psiquiatria.
       Que noite! Vou dormir tranqüilo.
       Dia 17 de dezembro, tô saindo, deixei meu cartão na recepção, ô mala pesada!,
Ah! Búzios, que saudades, agora vai começar tudo de novo, e até ano que vem.
       No ônibus, olho a paisagem salgada, areia branquinha e o vento com gosto de mar, deixo pra trás umas férias emocionantes, já estou sentindo o cheiro do asfalto.
  _Tô chegandooo!!! E até um dia.


Robert Lima


Pousada da alegria


Peguei o ônibus na rodoviária do amor,
com destino a esperança, que fica próximo
a fábrica de carinho;
Saltei no ponto do afeto e perguntei ao
despachante da amizade, onde ficava
a pousada da alegria, ele disse que ficava
muito longe, só eu é que não via;
Segue em frente aquele bar, à direita
da emoção, cuidado pra não tropeçar,
na falsidade e confusão;
Prepara pernas pra andar, porque o lugar
que vai chegar, é de difícil acesso;
Cuidado com esquecimento, você pode
se perder, tudo lá se vai com o vento,
mas se tiver coragem de andar todo esse
tempo, vai chegar onde procura, na
pousada da alegria;
Não esqueça de passar, na fabrica de carinho,
Tenha sempre atenção, porque a pousada da
Alegria fica em cima daquele morro, que
bombeia sua vida e se chama... coração.

Robert Lima


segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Nossa colcha de retalhos



Minha colcha de retalhos foi feita com carinho,
costurada toda a mão com linha de algodão e recheado
de amor.
Na barra coloquei a data, que nós nos conhecemos,
no avesso coloquei momentos, que nunca mais
esqueceremos.
Dividi os retrós de linha, pra juntos costurarmos,
nossa amizade amarrada nunca será arrancada da
minha colcha de retalhos.
Ela é macia e confortável feita pro meu tamanho,
cada ponto ali marcado, teve sorriso inesperado
enchendo minha colcha de retalhos de vida e muita cor.
Você pensa que eu me esqueço das noites passadas, quando
costuramos nossas vidas e nossas histórias engraçadas,
era risos o tempo todo, e a hora não passava, cada retalho
que pregava, nós falávamos uma piada e a linha acabava e o dia
amanhecia.
Ainda lembro quando cheguei, e por vocês fui bem recebido,
minha mala só tinha trapo, nada muito definido.
Hoje guardo com carinho, o primeiro pano que me deu,
de bolinhas cor de púrpura de fundo branco como eu.
Nunca pensei que um dia, nós pudéssemos costurar
juntando nossas linhas, nossas vidas e toda tralha
em uma colcha de retalhos feita pra eu deitar.
Cada um que passa por aqui, só tem acrescentar,
cada pedaço da sua vida eu quero costurar,
se cair o seu retalho, venha logo me avisar,
vou tratar de costurar, pra nunca mais soltar.
Mesmo que o tempo passe, nada nunca vai mudar,
porque os pontos que demos juntos, foram feitos
de linha de algodão de junco, muito amor e sorrisos
fartos que nunca mais vão se acabar...e se você
quiser fazer parte da minha colcha de retalhos,
traga pano, linha e agulha que te ensino a costurar...
eu também quero fazer parte da sua colcha de retalhos.

Robert Lima

sábado, 24 de janeiro de 2015

O Jardineiro


Todas as vezes que te procurei não encontrei,
sua janela não abre mais pra mim, então sai,
e fui plantar em outro jardim;

Ainda guardo um pouco das suas sementes,
espero que não demore a voltar, porque o
tempo corroe pra sempre, ela pode não mais
germinar;

Gastei toda água com você, e nunca me alimentei
de um fruto seu, porque os que vingaram, todos
colheram, menos eu.

Suas flores caíram, mas nenhuma foi pra eu passar,
você as vendeu, e o que sobrou deu pra quem
não soube cuidar;

Quando sua raiz tiver podre, e não conseguir mais se
sustentar, não haverá mais jardineiro no mundo,
porque hoje tudo se compra, mas cuidar de flores
como eu, você nunca mais irá encontrar...


Robert Lima


sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

O Milagre

          No ano de 1980, em São Paulo, vivia um garoto chamado Thiago, tinha apenas onze anos de idade, cabelos ruivos, olhos amendoados e sorriso singelo. Nessa época não havia muitos recursos, ainda mais pra quem morava no interior. Thiago acordava cedo, pegava sua bicicleta pintada de amarelo e partia pra escola. Ele era um dos meninos mais inteligentes da sala, sempre interessado no assunto, enquanto as outras crianças pulavam de um lado para outro sem parar no lugar.
       O que ninguém sabia, era que o menino tinha uma doença grave, sua família era pobre, e descobriu isso no início do seu nascimento, quando fez o teste do pezinho, e foram encaminhados ao hospital no centro da cidade. Desde então, eles vêm sustentando a situação da forma que dava pra levar.
          Nessa época, São Paulo estava passando por um momento difícil, quase não chovia, os rios estavam secos. Quem vivia da pesca, estava ficando sem trabalho, e na colônia que o garoto morava, a agricultura estava morrendo.
        Thiago presenciou várias vezes seus pais chorando pela situação, mas ele nunca soube da sua doença.
        Hoje na escola, a professora anunciou que haveria uma feira de ciências, e que a turma formasse grupos, e depois escolhessem o tema para desenvolver o trabalho.
          Thiago foi pra casa radiante, sua inteligência já montava todo esquema daquilo que ia fazer. Ele escolheu fazer seu trabalho sobre “Irrigação sustentável na agricultura”.
         Esse na verdade, era um bom tema, ele sabia bem a sua realidade e todos da colônia.
           Como poucas moedas que ele tinha, comprou um material bem barato, e com caixa de isopor achadas no lixo, ele montou sua maquete.
           No dia da feira, ele e seu grupo apresenta o trabalho a professora, ela fica deslumbrada com todo esquema, feito de matérias simples, mas muito inteligente.
           Então Thiago levou sua família para vê-lo, todos orgulhosos do menino, e ele, dando várias explicações sobre o tema a todos que se aproximavam da mesa expositora.
           Antes do dia terminar, Thiago passa mal, e cria um tumulto na escola, o garoto desmaia em cima da mesa, jogando todo trabalho no chão, as crianças choram nervosas. Alguém chama a ambulância, e o garoto é levado para o Hospital no centro de São Paulo.
           O médico que fez a avaliação, deu o diagnostico que a família já sabia, para que ele se salvasse, só um milagre.
           Enquanto isso na escola, a professora recolhe o trabalho do garoto, muito comovida com o acontecido.
           Noutro dia a professora leva o trabalho até um técnico de agricultura, ele fica pasmo com o esquema, e resolve desenhar isso no papel para montar um protótipo, e depois fazer o teste.
           _Professora, fizemos o sistema de irrigação do Thiago, está funcionando muito bem, com esse sistema, vamos acabar com a seca nas lavouras e recuperar a economia da cidade _Nossa! Que maravilha, ele vai adorar saber disso.
           A professora recebe a notícia que Thiago está muito mal. Nesse momento ela não teve nem coragem pra dizer aos seus pais sobre a descoberta do garoto. Ela volta pra casa arrasada.
           Noutro dia, todos da escola recebem a notícia, e as crianças da sala consternadas com a situação, silenciam.  A professora propõe que todos os dias façam uma oração, e assim fizeram durante dez dias. No décimo e ultimo dia, lá no Hospital...
           Thiago esta entubado, acessos venosos pelo corpo, e sua mãe ao lado sentada numa pequena cadeira, magra e esvaída.
           Um vento forte invade o CTI, os enfermeiros de plantão fecham as janelas, correm pra tentar proteger os acamados. Uma chuva de pétalas de rosas brancas entram CTI a dentro, o perfume se espalha no ár, pombos pousam na cama de Thiago e ficam empoleirados observando o garoto. A enfermaria inteira se prostra de joelhos no chão. Sua mãe segura sua mãozinha e acaricia chamando pelo filho. Uma luz desce em forma de pássaro e pousa sobre o garoto. Thiago abre os olhinhos, e sorri.
           Muita emoção e comoção, os pássaros vão embora e a pomba de luz se vai num flash atravessando paredes, e desaparece.
           Horas mais tarde, o médico vem para fazer a visita, e se assusta no que vê, Thiago não é mais um menino doente, ele sorri, ele come com vontade a comida servida, e sua mãe numa felicidade só, alimenta o garoto na boca.
       O médico sem palavras, escreve no prontuário:.. Dia 19 de Janeiro, às 18h, testemunho a evolução do paciente de um quadro terminal para cura total, restabelecido de todos os sinais vitais, motivo: O milagre de Jesus...
             No dia seguinte Thiago tem alta, já liberado, pode ir pra casa.
           A rua onde morava estava lotada de gente, a professora, as crianças da escola e todos que acompanharam o caso do menino, uma recepção e tanta.
             Antes de entrar em casa, a família recebe a notícia que receberia um dinheiro pelo projeto do garoto, e Thiago recebeu uma medalha pela escola, do melhor trabalho da feira de ciências.
        Hoje Thiago tem trinta e cinco anos, se formou em Agronomia, trabalha numa empresa que presta serviços à prefeitura de São Paulo, e seus pais moram com ele no centro da cidade.
            Ele carrega no pescoço junto ao seu coração, uma correntinha de ouro da pombinha do espirito santo. E assim a vida continua...
                  Que Deus abençoe a todos nós...amém.
           

Robert Lima
       


O Mistério: Ana, Josep e Bruno.

      Era um dia de domingo de 1899, e Ana chegava ao Palácio do Rio de Janeiro numa linda tarde, convidada pelo Barão para festa de comemoração do aniversário do seu filho Josep Gire. Ana era francesa, estava de passagem pelo Rio a passeio com seu pai Gherra. Quando o Barão soube da vinda, fez questão de convidá-los ao aniversário, pois ele tinha alguns planos para esta moça e seu filho.
   Josep tinha 23 anos, cabelos longos pelo ombro, cor de tabaco, corpo esguio e elegante, olhos claros e sorriso singelo, mais um pouco misterioso. Ana, uma mulher de 20 anos, cabelos vermelhos e pele matizada pela natureza, rodeada de lindas sardas que a deixavam sedutora aos olhos de qualquer homem da época. Encantada com toda beleza que o Brasil expunha, seus cabelos ao vento na brisa beira mar do Rio de Janeiro.
  _Como vai senhora Ana e Sr. Gherra? fiquem a vontade, vou chamar o meu filho pra conhecerem o palácio antes da festa começar. Ele pediu que o criado chamasse Josep. Ana olhou nas escadas e seus olhos brilharam quando se deparou com o filho do Barão, deixou escapar um pouco de euforia, e logo em seguida foi contida por seu pai disfarçadamente. _Que encanto Senhora Ana, venham comigo, vou levá-los ao passeio. Ana percebeu algo estranho, um rapaz, que não parecia ser nobre, olhava pelas cortinas acompanhando o passeio com os olhos. _Sr. Josep, desculpa a descrição, mais tenho a impressão de ter visto um rapaz a nos observar. _Senhora Ana (sorriu Josep) ,ele é um amigo, vive conosco aqui no Palácio.
     Era meia noite e o baile estava lotado de convidados, mesa farta e muita bebida. O Barão fez questão que Ana ficasse ao lado de Josep, enquanto ele jogava conversa fora com o pai. E lá, em cima da varanda, próximo ao lustre de bronze, estava o amigo de Josep a observar. Josep olhou o relógio e rapidamente saiu correndo, Ana ficou sem entender nada. Curiosa como ela, o seguiu. De longe Ana observava Josep e o amigo estranho a conversar, pareciam discutir, ou algo parecido. Como Ana havia de passar a semana hospedada, resolveu por conta própria que iria desvendar isso, porque o interesse no filho do Barão já era grande.
     No dia seguinte...
   _Oi Ana, sente-se aqui conosco para tomar café, deixe me apresentar meu amigo Brunno.
    Brunno não era nobre, se via pelo porte físico, cor parda e cabelos encaracolados, olhos esverdeados e corpo forte. Ele era quieto, quase não falava, a não ser com Josep. Estavam sempre juntos e dividiam o mesmo quarto, como irmãos. Ana muito intrigada quis tentar descobrir a importância de Brunno nessa história toda. Porque de certa forma, se sentiu ameaçada por esta amizade, pois podia botar a perder o seu interesse por Josep. Noutro dia de manhã bem cedinho, Ana se levanta e vai ate a sacada onde o Barão costuma ficar para apreciar a paisagem.
   _Sr. Barão, bom dia, estou a incomodar? _Que isso minha filha, fique a vontade. _Posso fazer uma pergunta Sr. Barão? (disse Ana) _sim, quantas quiser. _Como o Brunno veio parar no Palácio? Ele não é nobre como nós. _Minha filha, porque a curiosidade? (sorriu o barão) _Notei o seu interesse no meu filho, certo? , bom, vou contar resumidamente como ele veio parar aqui. _O Brunno e filho de uma escrava com um Marques, sua mãe faleceu logo no seu nascimento e ele foi encontrado por um dos meus empregados quase morto a beira de um rio, dentro de um cesto de palha, então resolvemos ficar com o garoto.
      Ana não se deu por satisfeita com a história contada pelo Barão, mais estava decidida a ficar com Josep. Quando mais tarde, Josep teve que acompanhar seu pai a uma visita de negócios, e Ana aproveitou para vasculhar os aposentos do seu pretendente.
      Enquanto ela revirava tudo, um barulho na porta. Ana se esconde atrás do cortinado de veludo azul e fica a esperar. Era Brunno, entrou, tirou a roupa e deitou em sua cama. Ana, não sabia como sair dessa, mais ficou a observar Brunno deitado, e como ela observou! Já se passaram duas horas, sua pernas encolhidas não agüentavam mais, ela resolveu sair de mansinho sem assustar. Mais Brunno estava somente se refrescando, o Rio é muito quente nessas épocas, e ele percebeu algo ... _Pare aí! o que está fazendo aqui Senhorita Ana, como entrou no meu quarto?
     Ana sem saber o que dizer; e nervosa ao mesmo tempo, olhava para Brunno despido, coisa que na França, não há se ver.
     Ele se aproximou de Anna, tão perto, que se podia sentir o bafo quente de sua boca. __O que foi senhora, nunca viu um homem antes? Ana fugiu porta afora, desnorteada se perdeu no Palacio com tantos corredores. Seu coração palpitava, um misto de medo e sedução. _Ana minha filha, o que foi? (disse seu pai) _nada papai, só um pouco cansada.
    Durante todo dia, Ana não tirava aquilo da cabeça, o tempo que estava lá, tentava de todas as maneiras evitar a presença de Brunno. Ela já não sabia mais de nada, o seu interesse por Josep e sua curiosidade por Brunno.
   Numa noite de quarta feira, Ana está em seus aposentos e escuta passos pelo corredor, era Josep, vestido em trajes de dormir. Ela aproveitou e foi ao seu encontro. _Oi Josep! sem sono? _um pouco, o calor está intenso, me acompanha até a sacada?
    Quando chegam, Brunno está lá, olhando para o céu. _Também sem sono Brunno? (diz Josep) _sim, e parece que a senhorita Ana também, não é? (sorriso entre os lábios). Ana que há dias tentava evitar Brunno, naquele momento não teve como voltar atrás.
    _Então vamos apreciar as estrelas juntos. Falou Brunno com as mão sobre os ombros de Anna e Josep. Ana se via em situação embaraçosa e ao mesmo tempo intensa para os padrões de uma mulher da época. Sem jeito, Ana cedia ao poucos as investidas dos olhares de Brunno e Josep. Um momento único, onde Ana descobria o que estava acontecendo ou se entregava aquele jogo de sedução e mistério.
     Amanhece...
    Ana corre até os aposentos dos rapazes, e eles já haviam saído bem cedo. Estava disposta e entrar no jogo, em pouco tempo já estava envolvida de tal forma, que esquecera que a semana estava acabando e logo teria que voltar para casa.
     É noite de quinta feira...Ana ouve baixo um grunido, ou coisa do tipo, meio animal e meio humano. Com medo, ela sai pelos corredores, chama por Josep, e ninguém responde. Mas ainda assim, ela pode ouvir o som do animal, lá no final dos corredores do Palácio. Mesmo com medo, sua curiosidade é grande, ela vai seguindo o som, que a leva a uma grande porta de madeira talhada, com figuras egípcias, muito antigo. Atrás dessa porta o som é mais forte. Ela se abaixa e tenta ver pela fresta no chão o que está acontecendo. Consegue mais ou menos enxergar Brunno e Josep, completamente despidos, sujos de sangue, de um animal que estava morto no chão. Completamente apavorada, ela corre chorando e pensando como sair dali o mais rápido possível. Brunno e Josep, sentem os movimentos dela, e como se flutuassem, arrebentam as portas e vão ao seu encontro. Antes mesmo dela alcançar seu quarto, eles descem pelas paredes a sua frente. _Não grite senhora Ana! não vamos lhe fazer mau (diz Brunno).
Josep a pega em seus braços e voa como pássaro até a sacada do Palácio. Os dois retiram cada peça de roupa de Ana, deixando completamente nua. Nesse momento ela que até então estava amedrontada com a situação, agora se entrega no mistério e no desejo, sem medo do final que aquilo podia levar. O dia está quase clareando, o três ainda enrolados nas cortinas da sacada, o cabelo vermelho brilhavam com os primeiros raios de sol.
Tarde de quinta feira...
     Josep e Brunno contam a Ana toda a verdade que os une. Brunno não é filho de escrava, é filho de uma mulher que usava feitiçaria, eles se conheceram por acaso, quando Josep foi atacado por sua mãe para rituais satânicos, e Brunno o salvou, provocando a morte da própria mãe. Enquanto agonizava, ela amaldiçoou os garotos, onde eles não poderiam se alimentar da terra e nunca se separariam um do outro. Caso isso acontecesse, os dois morreriam juntos ou viveriam eternamente. Por isso tal estranheza do comportamento dos rapazes. O Barão sabia de toda verdade, mais escondia por medo de retalhação e da fogueira que seria o destino dos garotos, e casando seu filho Josep, ele manteria imagem do rapaz, que na época solteiro não era bem visto, trazendo a paz para o Palácio e sua carreira política.
   
    Ana agora já sabia de tudo, estava envolvida até o pescoço, em todos os sentidos.
    Noutro dia eles resolvem fazer as bagagens, e sem avisar a ninguém, Ana, Brunno e Josep, partem no primeiro navio rumo a um lugar qualquer, levando uma saca de moedas que daria pra eles recomeçarem a vida em um lugar onde ninguém os conhecesse. Dizem até hoje, que alguém já os viu passar, que Anna já estava bem idosa, Brunno e Josep, jovens como sempre.  Mais estavam juntos, os três ,como sempre foi...
    Se é lenda ou não, vai se saber. Sempre que alguém conta um conto, aumenta mais um ponto. Boa noite...

   


quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

O Muro

      Sempre tive curiosidade de saber o que havia atrás daquele muro...
Na época eu tinha oito anos de idade, e sempre nas férias escolares, eu ia passar um tempo na casa da minha avó. Ela era uma senhora dos seu setenta e quatro anos, gostava de costurar, sempre à beira da janela, que dava visão para o muro.
Todas as vezes que estava brincando no quintal, ela sempre falava:_ Vinicios, vá brincar em outro lugar, sai de perto desse muro!
       Era um muro alto, talvez não fosse tão alto assim, eu era uma criança, e tudo parecia muito maior perto de mim.
       Sempre gostei de brincar com a natureza, nunca fui ligado em carrinhos ou brinquedos do tipo. Eu gostava de experimentos, misturava água, folhas e tudo que via pela frente, enterrava, e depois noutro dia, ia ver o resultado da bagunça. Me divertia em cavar buracos, achar tesouros, subir em árvores, nada convencional pra uma criança da cidade. As férias na casa da vovó, eram as melhores, mesmo com toda simplicidade que havia na época. Um dia, eu acordei bem cedo, a vovó estava fazendo o café, e vovô tinha saído para comprar o pão, aproveitei a distração e fui pro quintal, ela nem percebeu que eu havia acordado.
       Escavei o buraco onde eu tinha enterrado as minhas experiências, com as mãos cheias de terra preta, olhei pra trás, e vi o muro. Eu na minha curiosidade de criança, fui até lá, observei ele bem de perto, era alto mesmo, metade de pedra e a outra de cimento. Em cima dele havia muitos cacos de vidro. Eu pensei..._pra que tão alto e tantos cacos, se ao lado não morava ninguém?
           Foi ai que eu me enganei, olhei por uma fresta da rachadura, e pude ver outro lado. Existia uma casa, parecia abandonada, o mato estava alto, mas eu podia ver as janelas desbotadas pelo tempo, vidros quebrados e muita poeira, na varanda, muitas cachopas de marimbondos.
_Vinícios, onde você estava garoto! Gritou vovó. Eu com as mãos pretas de sujeira e cara de paisagem, sem saber o que dizer.
Noutro dia...
_Vovó, vou brincar na rua com a Michele _Pode ir brincar, mas quando der a hora, quero você dentro de casa, ok? _sim vovó, claro.
        Eu como toda criança, falava uma coisa, mas fazia tudo ao contrário.
_Ei Michele! Vamos brincar? _Vamos! Vou pegar minhas bonecas _Bonecas? eu não brinco com bonecas, isso é coisa de meninas! _Então vamos brincar de que? _vamos andar de bicicleta, vou pegar do meu avô, e você pega a sua _Tá bom.
       Ficamos andando de um lado para outro, até cansar. Então paramos e sentamos na calçada da casa que tinha o enorme muro.
_Michele, você já entrou nessa casa? _Eu não Vinícios, minha mãe sempre disse para não chegar ai perto _Minha avó diz a mesma coisa pra mim, o que deve ter de mau aí dentro?
        Eu e Michele olhamos pela fresta do portão de madeira, empurramos, ele estava semi aberto, amarrado pelas correntes, mas o pouco que abriu, deu espaço pra que eu e Michele pudesse passar. Entramos, apesar do mato está alto, o caminho de pedra que levava até a casa estava limpo. Demos as mãos, e mesmo com medo, entramos.
      A casa era escura, teia de aranha por todo lado, sem falar nos marimbondos que ficavam voando em cima de nossa cabeças, só esperando o momento de dar uma ferroada. Nossas pernas tremiam, mas não recuamos. Toda criança é teimosa.
         A porta da casa estava sem tranca, a sala estava coberta de jornais e muita poeira, e um colchão jogado no chão.
         Mesmo que nós sussurrássemos, nossa voz ecoava casa adentro. De repente a porta fecha, numa força dada pela corrente de ár que entrava na casa, ficamos trancados. Eu e Michele sentamos no chão abraçados, nosso coração quase sai pela boca, só pensava na minha casa. Um cheiro de mofo misturado com fezes de animal. Foi aí que tudo começou acontecer, ouvimos todo tipo de barulho, água caído da torneira, panelas caindo no chão. Sentimos pessoas passando pertinho de nós, mas não enxergava nada. O colchão começou a dançar no meio da sala, como se alguém tivesse pregando uma peça na gente.
       Pelo corredor que dava pra copa, vimos uma imagem clara, flutuando em nossa direção. Eu e Michele encolhidos no canto da parede, um com a cabeça encostado no outro, de olhos bem fechados para não ver o que estava acontecendo. Ela veio em nossa direção, se abaixou e ficou olhando pra nós.
Eu de olhos serrados, que dava para ver um pouco entre as pestanas. Ela sorria, e fazia sinal com as mãos nos chamando, como se quisesse brincar.
Era uma menina, não conseguia ver seu rosto, mas pela silhueta que flutuava, sabia que era uma mulher.
       Só tinha uma alternativa pra nós, entrar na dela. Eu e Michele levantamos devagar, se escorando na parede. Ela, acompanhando nosso movimento, sorrindo.
        Eu sentia arrepios até a cabeça, como acontece até hoje quando entro em lugares cheios de energia. Tentamos manter a calma, a menina flutuante foi até o corredor, e nos chamando pra que nós as seguíssemos.
        Michele chorava, não sei se era de medo ou porque era chorona mesmo. Fomos até um quarto levado por ela, muito sujo e úmido. Ela aponta pra um guarda roupa velho, sem portas, detonado pelo tempo. Olhei no fundo dele, havia uma boneca de pano, muito velha, amarelada e olhos de botão caídos. Ela sorri pra mim, entendi o que ela queria.
        Peguei a boneca, estiquei os braços pra que ela pegasse, ela tentou, mas sua forma não permitia segurar nada. A menina flutuante fez cara de choro, aí eu pensei _Mas uma, já basta Michele chorando, agora a esbranquiçada também!
        De repente, ela abraça Michele e num folego só, se apossa do corpo da minha amiga. Michele agora sorri pra mim, mas não é Michele, é o sorriso dela.
Ela pega a boneca contra seu peito, abraça forte, cheira, beija, senta no chão e canta uma canção de ninar _mamãeee foi a ruuua, papai foi trabalhar...
        Nesse instante, as portas se abrem, as janelas destrancam, um vendaval carrega todos os jornais casa afora, e Michele sai do transe.
        _Vamos Michele! É agora!
Saímos correndo, tropeçando e levantando, chegamos até portão, e passamos pela fresta.
       _Ufa! Vamos pra casa, eu não quero mais ficar aqui _Nem eu Vinicios.
A sensação de alívio era grande, mesmo que fosse tomar um puxão de orelhas da minha avó, nada mais era pior, do que tinha acontecido.
      _Meu filho, já chegou? Você acabou de sair não faz trinta minutos _Cadê a Michele? Não quis brincar com você? _Não vovó, eu desisti, prefiro ver desenho na TV.
       Até hoje não sei o que ouve, parecia que tinha levado horas lá dentro.
Hoje tenho vinte cinco anos e Michele vinte e quatro, ainda nos encontramos nas férias, mas nunca mais tocamos no assunto, nunca mais chegamos perto daquele...Muro.



Robert Lima




quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

A culpa é do Whatssap


Minha bateria descarrega,
não consigo mais falar,
é problema de sinal?
ou a energia que caiu?
Nada disso é o problema,
todos mexem e ninguém
sabe, mas a culpa disso
tudo, é o danado do Whatssap;
É grupo pra todo lado, não
consigo nem falar, todo
mundo ta maluco,
todo mundo ta legal,
mas por causa de vocês,
eu vivo sem sinal;
A bateria foi pro brejo,
Não posso carregar,
Alguém pode me ajudar?
serve bateria móvel,
e até de automóvel,
eu só quero é falar!
O Whatssap tá bombando,
eu to descarregando,
gente! Eu quero falar!!!
 Robert Lima


terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Vida


                                         Não nasci pra ser modelo, nem exemplo
de ninguém;
Faço o que me der na telha, sou avoado,
sou do bem;
Minha vinda é passageira, não tenho
nada de valor, só vou levar na minha carteira,
minhas lembranças e muito amor;
Enxergo longe tuas palavras, antes
mesmo de falar, minha intuição é aguçada,
dá até pra adivinhar, o que você está pensando;
Cada palavra que eu digo, eu tento registrar,
Porque minha vida é uma folha, e nela quero
desenhar;
Guarde sempre seus rascunhos, um dia pode
precisar, porque sua vinda é passageira,
mas o que escreveu a vida inteira, ninguém
pode apagar...


Robert Lima

segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

A lenda do jardim de Ogum


Era 01 de janeiro de 2015, por volta das 9h da manhã, Júlia sai de casa com um cesto de vime cheia de pães que ela mesmo preparou para vender na rua. Júlia é uma menina mulata, de cabelos crespos curtinho cheio de tic tac . Usava sempre um vestido de tecido vermelho de estampa floral, e nos pés sandálias de borracha. 
Onde Júlia passava ela gritava: _Olha o pão fresquinho! Saiu agora freguesa! e todos na cidade adoravam a menina, pela sua simplicidade de vender os pães e pelo jeito tão engraçado que se vestia, parecia uma bonequinha de ébano. Júlia sempre foi muito esperta, cheia de atitudes, não deixava barato não, ha de quem mexesse com ela, ia ter uma resposta na ponta da língua. Afinal, Júlia cresceu praticamente nas ruas, sua mãe saia muito cedo de casa pra trabalhar, e a menina ficava quase o dia todo na rua, aprendeu tudo que era bom e o que não era também. Sozinha, logo aprendeu um ofício, e começou a fazer os pães. Sua mãe frequentava o terreno de Ubanda, e pelo menos duas vezes na semana, ela fazia algum tipo de serviço lá. Diziam as más línguas que a menina era filha de Ogum, por isso a garota era da pá virada. 
_ Isso é coisa do Diabo! falava o grupo de senhoras que saia da missa. _ olha o cabelo dela, cheio de pregadeiras, parece até chifres! E esse vestido vermelho, que horror!
Júlia que não era boba nem nada, mas que depressa mostrava a língua, essa garota é da pá virada.
Num desses dias qualquer, lá vai Júlia, com seu cesto na mão, vestido vermelho e seus tic tacs. 
Descendo a ladeira de São José, ela dá de cara com os cães brabos, a menina ficou tão assustada, que sua reação foi correr. Júlia larga seu cesto no chão, e num salto só, pula a cerca de arame farpado mato a dentro. A menina grita, mas ninguém a escuta, ela corre muito, e os cães atrás. Ela se depara com uma enorme cratera sem fundo, e não deixa dúvidas que esse era o limite. Ela pega um galhinho seco no chão e firma a sua frente tentando afastar os cães.
_ Xô cãozinho, pra trás, me deixem em paz. Ela abaixou e ameaçou jogar algo, foi nesse momento que um dos cães salta pra cima de dela, e os dois caem no enorme buraco.
Já é noite, e a menina não volta pra casa, a mãe desesperada não procurou antes porque sabia que ela era muito esperta. Todos do centro ajudaram na procura, e a polícia foi avisada. Encontraram o cesto de Júlia caído no chão, mas ninguém teve a ideia de entrar no meio da mata. Se passou uma semana, um mês, e nada. 
Numa noite de lua cheia, a mata toda iluminada, num silêncio total, ressurgiu de dentro da cratera, onde a menina havia caído, uma imensa árvore de ébano. Ficou tão alta, que de longe se podia ver a copa. Com o despertar do dia, desabrocharam enormes flores vermelhas, como se fossem papoulas. E quando a cidade acordou, se surpreenderam com tamanha grandeza que havia aparecido de um dia para o outro. 
 Flores foram se espalhando por todo entorno, um jardim multicolor crescia tomando conta daquele lugar. 
Um dia, um casal de namorados resolveram ir até o local fazer algumas fotos, e ficaram alí um bom tempo, fotografaram as flores, a árvore  e os animais que viviam ali. Chegando em casa, foram para o computador descarregar as fotos. E a surpresa deles quando colocaram na tela a foto tirada da árvore de ébano, alí estava uma menina de vestido vermelho segurando pela coleira um cachorro, e fazendo careta com uma cara de travessa, em seus cabelos, um tic tac prendendo uma enorme papoula vermelha.
Um olha para outro, e se perguntam: _quem é ela? 
Na tela dispara o navegador google, e alguém digita: SOU DONA DESSE JARDIM, SOU A FILHA DE OGUM... Emoticon smile


Essa história se espalhou por todas as redes sociais, quem viu não esquece, quem ouviu não quer nem saber...só sei que foi assim!

Robert Lima