Numa vila
afastada da cidade, morava um menino chamado Gabriel, ele era um garoto normal
como todos os outros da idade dele. Mas a única coisa que ele era bem diferente
dos outros, é que sua cabeça vivia nas nuvens, literalmente. Gabriel queria
voar, voar como os pássaros. Enquanto todos os meninos brincavam de correr,
bola e carrinho, ele vivia de braços abertos imitando um avião. Pulava da
janela, pulava da cadeira, pulava da charrete, sempre imitando os pássaros, e
olhos fixos no céu. Gabriel foi crescendo, e aos 15 anos de idade, não deixava
sua vontade de voar. Seu pai era marceneiro, e Gabriel de tanto ver o pai
trabalhar, foi aprendendo um pouco do oficio. Um dia ele resolveu construir um
par de asas, foi até uma madeireira e comprou uma placa de madeira bem leve e
dobradiças, tipo essas de porta. Chegou em casa, abriu uma cartolina e riscou
aquilo que seria o molde das suas asas. Aquele se tornou um dos projetos mais
importantes da sua vida, pois desde pequeno sonhava com isso, mas sonhava tanto
que não dava conta de que com asas feita de madeira, não conseguiria voar. Seu pai
acompanhou o que estava fazendo, mas nem imaginava o que Gabriel tramava, pois
achava que aquilo era somente uma brincadeira, mas para o garoto era um projeto
de vida.
Uma semana
depois, as asas estavam prontas, até penas de pássaros Gabriel colou, elas
tinham todo um mecanismo de dobradiças que pareciam ter sido feitas por um
técnico. Gabriel
estava tão empolgado com tudo isso, que num dia de domingo, às 12h, ele começou
a dar início aos seus planos de voo. Sem que seus pais soubessem, o garoto
arrumou num cesto, dois pães, umas frutas e garrafa se suco. Ele saiu às 15h de
casa, pois o caminho era longo até as montanhas que cercavam a cidade. Gabriel
caminhou, caminhou e o entardecer foi chegando.
Ele se afastou tanto da cidade, que na subida da montanha já não ouvia
barulho de gente, somente grilos e vento batendo no capim. Ele chegou, e
cansado, sentou-se, colocou suas asas de madeira do lado, abriu seu cesto e fez
seu lanche, olhando toda a cidade que por hora estava silenciada pela distância
das montanhas. Chegou a hora, já são 18:30, os pássaros noturnos já saem das
suas tocas. Gabriel levanta, pega as asas, e coloca em seu corpo franzino,
amarradas por cordas de sisal e dobradiças. Sente o vento em seu rosto, gelado,
pois a temperatura nas montanhas esta hora já está baixando. Os pássaros
noturnos fazem uma festa no céu, esperando que Gabriel junte-se a eles. Ele
respira fundo, fecha seus olhos e vê a imagem de quando era criança, quando
brincava de voar no terreiro de casa. O garoto se afasta, toma distancia para
pegar impulso, e sai correndo em direção ao abismo, num suicídio total, tomado
de um sentimento de sucesso e incerteza. Então ele salta, e bate suas asas de
madeira, o vento o impulsiona pra cima, como se fosse uma pipa de papel. Por
hora Gabriel grita de euforia, seu coração bate acelerado, por um instante ele
vê toda cidade de cima, e até a sua casa, mas nós não fomos feitos para voar, e
o garoto cai, em queda livre, numa velocidade alucinante. Não há mais tempo de
socorro, ele vê toda sua vida passar num rápido momento, o sorriso da sua mãe,
seu pai observando ele trabalhar e até seu passarinho de estimação. Uma mão
enorme se abre, como se fosse um lençol d’agua, e acolhe Gabriel num abraço
quente e sem fim...
Passaram-se
anos, a cidade procurou por Gabriel, fotos dele foi pregada por todos os
lugares, seus pais até hoje mantem uma foto do menino na sala quando pequeno,
de braços abertos.
Ninguém
soube o que aconteceu de fato. Um dia seu pai estava na varanda, sentado
olhando para o céu, e caiu sobre suas mãos um a pena...ele ouviu, vindo lá de cima,
as risadas do garoto, do menino Gabriel...
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